A igreja que navega
O estado do Amazonas é conhecido por sua diversidade cultural e natural. Em seu mais de 1,5 milhão de km² de área estão quase 20% da água doce do planeta. É por isso que o acesso a boa parte do vasto território amazônico só é possível por meio de barco ou avião. Lá, os rios são mais do que canais de transporte; são ambientes de recreação, fonte de subsistência e o “quintal das casas”.
É nesse contexto de isolamento geográfico que milhares de comunidades ribeirinhas vivem às margens dos rios e de recursos essenciais. Dona Aldenora de Souza sabe bem o que é encarar essa realidade. Ela tem morado a vida toda em Careiro da Várzea (AM), a três horas de barco de Manaus. “Quando chegamos aqui havia só água, algumas casas espalhadas e muito verde. Hoje já somos cerca de 5 mil pessoas, mas nossa realidade é triste”, relata.
Aldenora conta que no posto de saúde local só há atendimento médico duas vezes por semana. E, quando algum caso é grave, o jeito é correr para a capital. Ela ainda reclama das enchentes e das epidemias trazidas pelas cheias. O saneamento básico é precário. “Fomos realmente esquecidos”, lamenta Aldenora, que há anos trabalha como parteira para minimizar o sofrimento de sua comunidade.
Às margens do rio
10 mil comunidades ribeirinhas sem presença evangélica e 117 etnias indígenas sem contato com a Bíblia vivem na bacia amazônica. “O evangelho eterno precisa alcançar pessoas que vivem aqui ao lado e nos extremos, nos bairros, nas vilas, nas tribos e também nas comunidades ribeirinhas”, justifica o líder.
É por isso que a denominação investiu num barco com grande mobilidade para navegar longas distâncias e em rios profundos e rasos. “A igreja que navega”, nome dado ao templo flutuante, foi projetada para dar suporte evangelístico e assistencial, em parceria com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Brasil) e as lanchas Luzeiro.
No solo fértil da Amazônia, o projeto já começa a dar seus primeiros frutos à margem do rio Solimões. Em 13 de junho foi inaugurado um templo na comunidade de Gutiérrez, em Careiro da Várzea (AM), a primeira igreja plantada como resultado da iniciativa. Por 40 dias, os ribeirinhos receberam atendimento médico, odontológico, psicológico, além de participarem de feiras de saúde, atividades educativas e reuniões evangelísticas.
A dona de casa Fátima Nogueiras, que tem passado por um processo de luto, foi uma das pessoas alcançadas pelo projeto. “Depois da morte do meu filho há alguns meses, pensei até em tirar minha vida. Estava sem vontade para nada, a vida havia perdido o sentido. Foi quando soube que estava sendo oferecido atendimento psicológico gratuito aqui na comunidade. Vi naquelas pessoas do projeto algo diferente. Não recebi apenas apoio psicológico, mas encontrei uma grande família”, reconhece Fátima. Ela e sua família também passaram a frequentar as reuniões evangelísticas todas as noites. “Hoje meu sorriso voltou. Descobri que existe Alguém que nos ama e cuida de nós”, completa.
“Se não fosse por esse projeto ousado, muitos ribeirinhos não teriam acesso ao evangelho eterno”, avalia o pastor Reno Guerra, líder espiritual do templo flutuante. Antes de assumir a liderança dessa nova iniciativa, Guerra trabalhou um ano no interior do Amazonas. Outro ministro que sonha com o avanço da mensagem adventista na região é o pastor Arildo Souza, responsável regional pela área de Missão Global da igreja. Ele acredita que o investimento na “igreja que navega” pode inspirar outros fiéis a se engajarem na evangelização dos ribeirinhos.